terça-feira, 19 de maio de 2009

Consideração subversiva cíclica.


"A árvore quando está sendo cortada, observa com tristeza que o cabo do machado é de madeira."

Encontrei este Provérbio Árabe enquanto procurava no Google o que não me permiti procurar nos amigos por medo de não ser compreendida: considerações sobre a tristeza.
A tristeza é um sentimento intrínseco ao ser humano e por mais subversiva que possa parecer tráz sempre consigo momentos de reflexão.
É bem verdade que a tristeza, bem como a felicidade é um estado passageiro, então, antes que passasse, resolvi fazer minhas próprias considerações, já que nem o Google nem os amigos seriam capazes de saber em que tendão está a minha dor se eu não estivesse disposta a apontá-la.
Em primeiro lugar, eu não sou o tipo de pessoa que acha legal essa coisa da vida emocional ser assim, cíclica. Ficar feliz, triste, feliz, triste, cansa minha cutis e cria marcas de expressão, com as quais eu irei me preocupar ainda mais num futuro não tão próximo e em segundo eu sei bem aonde está o meu tendão mais dolorido. Fica bem à esquerda das minhas fraquezas emocionais, que é por onde o sangue passa quando estou prestes a jogar o celular contra a parede na intenção de bombear menos intensamente toda essa energia que eu insisto em engolir.
Se reconhecer o problema é metade do caminho, reconhecer e saber a solução é 70%?
Pois eu assumo que prego o rabo no burro errado, mesmo sabendo aonde dói, simplesmente por receio de me impor na minha própria vida.
Isso não foi uma das minhas dirgressões.
Eu preciso falar do meu tendão, do rabo no burro errado, do celular que por pouco eu não destruí e de todas as outras digressões subversivas doloridas e cheias de energia se eu estiver realmente disposta a falar da minha tristeza.
Pois bem, eu nem quero falar da minha tristeza, eu quero mesmo é que ela passe, porque eu definitivamente não tenho talento para 'tristeza produtiva' e o efeito placebo do WordPad.
Acho mesmo é que se eu conseguisse viver "sem lenço e sem documento, nada no bolso ou nas mãos"¹, assoviando Beatles e chutando latas pela rua, eu não precisaria do WordPad porque o tendão não doeria.
Apesar de parecer sem graça e pouco produtivo eu preferiria. Preferiria até achar tedioso viver feliz demais e começar a pensar no quão produtivo seria se doesse o tendão e eu pudesse ter o WordPad como confidente para fazer considerações esquisitas sobre algo que mal entendo. (Ah, os 70%...)
Ai, voltando para o Provérbio Árabe eu me pergunto que graça tem fazer considerações sobre uma dor da qual eu sou vítima e algoz ao mesmo tempo.
Não sei. Bem por isso eu olho com tristeza para o cabo feito com a madeira das minhas próprias considerações capengas, que empunhado pela minha mão machuca o meu próprio tendão.


Roberta Cardoso

(
"..but I can't find the key to open my door.." - Kings Of Convenience )


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¹ - Alegria, Alegria - Caetano Veloso